segunda-feira, 4 de julho de 2011

Patrimônio Preservado


       O dia mal raiou e lá se vão eles por meia dúzia de quilômetros de estrada de terra até o antigo Arraial do Ferreiro. São sete pessoas e seu destino é a igreja São João Batista, onde passarão mais um dia em trabalho meticuloso de restauração daquele templo, dos pisos, altares, imagens de santos, pinturas aos detalhes do teto.
A obra estará pronta em novembro deste ano. É mais uma das tantas em andamento na Cidade de Goiás, que acaba de apresentar ao mundo mais uma edição do Fica, o XIII Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental. Neste caso, o responsável pela restauração é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHN, com dinheiro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.
Quem coordena o trabalho naquela igreja é Carla Mabel, uma jovem graduada em História, com especialização em Técnicas de Restauração e Conservação pela Universidade Federal de Ouro Preto (MG). Ela mora em uma pousada, a Dona Sinhá, uma casa que existe desde o início do século 19 e foi restaurada recentemente pela sua proprietária, a professora Maria das Graças Fleury Curado.
A restauração dessa pousada segue a trilha de muitas outras edificações tombadas na Cidade de Goiás, em que os proprietários usam recursos públicos para restaurar e conservar. Um desses projetos é o Monumenta, do Minitérios da Cultura, repassado pela Caixa Econômica Federal, que financia o restauro a módicos juros.
Tanto nas edificações do centro daquela cidade histórica, como na igreja do Ferreiro, distante dali, há um sentido só. É uma comunidade inteira que se une a órgãos dos governos federal, estadual e até municipal para manter um patrimônio que é da Humanidade. E há os que metem a mão no próprio bolso e saem matando cupim, refazendo fachadas e telhados, mas sempre com orientação técnica.
A antiga Vila Boa, criada por Bartolomeu Bueno da Silva Filho, o Anhanguera II, na década de 1720, é um marco histórico não apenas para Goiás. E está sendo muito bem conservada, mesmo que sofrendo com algumas intempéries, como as enchentes do rio Vermelho. Mas essas, também, serão contidas por obras já em curso.
Carla Mabel é mineira, trás a experiência de lá. Com ela está outro forasteiro, o entalhador baiano Paulo Roberto Agra Silva, que mora em Cocais (MG). Os demais membros da equipe, contudo, são pratas da casa, jovens goianos que fizeram o curso de Conservação e Restauração pelo CEP (Centro de Educação Profissional), da Secretária de Educação do Estado.
Carla diz que ficou surpresa ao chegar em Goiás e ver gente capacitada, com todo o conteúdo que precisa ter um profissional desse ramo de atividade. “Tem que ter conhecimento histórico, saber das artes, ter sensibilidade e muito habilidades, o que eles têm”, conta ela.
Ela sabe muito bem que o trabalho que faz é apenas um entre tantos em curso. A tarefa de restauração e conservação está no cotidiano das pessoas por ali. Ela só lamenta ter que deixar sua morada num recinto histórico, que é a pousada onde mora, em novembro, quando a igreja do Ferreiro estará linda, para quem quiser ver.

Publicado no jornal O Popular, de Goiânia, no domingo

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