terça-feira, 20 de setembro de 2011

Mulheres Árabes


A intensa propaganda dos Estados Unidos contra os povos árabes inclui informações mentirosas sobre a mulher naquela parte do mundo, independente de religião e classe social. A grande mídia imperialista busca afirmar a idéia de que a mulher árabe é mais discriminada e oprimida que a dos países ocidentais.
Às vésperas de uma decisão da Organização das Nações Unidas sobre a retardada criação do estado da Palestina, esses meios de comunicação tentam impingir uma imagem de bárbaros sobre os povos árabes. São textos e imagens que escamoteiam a realidade.
Querem, no fim das contas, vender a idéia de que os conflitos que estão ocorrendo no Oriente Médio e Norte da África trariam a redenção especialmente para as mulheres. Os fatos demonstram, porém, que não é bem assim. Artigos e matérias com pouco destaque, na própria grande mídia, demonstram a contradição.
Por exemplo, uma jornalista do New York Times escreveu semana passada artigo denunciando o fato de que apenas uma mulher faz parte do tal conselho nacional formado na Líbia após a invasão do país, que tem 45 membros. Ou seja, o processo é assunto de homem.
A guerra ali promovida, com amparo da ONU, em verdade apenas reaviva disputas religiosas, econômicas e culturais, na velha estratégia de dividir para reinar. Reforçam, pois, aspectos negativos das relações sociais em vez de alterá-los. Em especial, no que se refere à situação da mulher.
O fato é que, ao contrário do que diz essa mídia, no entanto, a mulher árabe, de um modo geral, é muitíssimo consciente de seu papel feminino.
 Vamos pegar o caso das vestimentas. Essa é uma herança turca, do período do Império Otomano, e nada tem a ver com a religião. Aliás, o Corão é como a Bíblia, sujeito às mais diversas interpretações e serve, portanto, à defesa de teses que vão do fascismo à Teologia da Libertação, esta que se aproxima da visão marxista do mundo.
Ao se cobrirem com um monte de vestes, muitas vezes deixando só um visor de tela para os olhos, a mulher árabe está mesmo é se valorizando. E este é um aspecto fundamental dessa confusão midiática que se faz.
O fato de usarem burcas e mantos não significa opressão ou medo. Os trajes encobrem mulheres lindas, que cuidam com delicadeza do seu corpo, a ponto de se depilarem dos pés ao pescoço, usarem perfumes e se guardarem para manter relações sexuais com algum homem, mas este será o que elas escolherem.
É por isso que, ao viajar por países árabes, a gente vê salões de beleza por todo canto. Mas, mostrar o corpo é, para elas, se oferecer a qualquer um. E isso as mulheres ocidentais fazem o tempo todo, ainda que mantenham relações firmes com algum parceiro ou parceira. São visões diferentes, apenas.
A oportunista venda da imagem de um mundo repressivo e obscuro, portanto, não condiz com a realidade. São modos de vida diferentes, apenas. Lá, é claro, a mulher é discriminada e padece também. Mas é também, porque isso ocorre igualmente aqui, em nossos terrenos.
O problema é usar isso como propaganda, como arma de guerra, como vem sendo feito.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Samba na Parada

Pela primeira vez na história, uma escola de samba desfila nesta quarta-feira numa parada cívica de 7 de setembro. E é justamente na capital do País, onde esses desfiles sempre foram marcados pela imponência das fardas, marchas castrenses e equipamentos bélicos.

A ala do samba que este ano entra na avenida é da Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro, a ARUC. Seu comandante é o presidente da escola, o competente jornalista Moacyr de Oliveira Filho, o Moa, que todo ano acha uma novidade para levar às ruas.
A ARUC nasceu junto com Brasília, em 1961. E é do Cruzeiro Velho, um bairro de Brasília que fica ao lado do Setor Militar Urbano (SMU), numa das pontas do Eixo Monumental, a pista que é mais conhecida pela parte, na ponta oposta, onde está a famosa Esplanada dos Ministérios e, ao final, a Praça dos Três Poderes.
O som dos ensaios da bateria da escola é ouvido no SMU e o ribombar dos tambores dos quartéis é ouvido no Cruzeiro. Nunca, porém, tinham repicado no mesmo tom. E aí está a novidade do acontecimento deste 7 de setembro.
Moa é paulista, paulistano e corintiano roxo. Desde o início da década de 70 mudou de mala e cuia para Brasília, onde trabalhou em alguns dos principais órgãos da imprensa nacional e do Distrito Federal. Atuou na assessoria da bancada do PCdoB no Congresso Nacional e foi chefe da Comunicação Social do governador Cristóvam Buarque.
A ARUC é a escola mais premiada de Brasília e tem a Portela, do Rio de Janeiro, como “madrinha”. Funciona como um centro cultural e esportivo e tem, como presidente de honra, um sambista respeitado nacionalmente que, muito a propósito do feito desta quarta-feira, tem o nome de Manoel Brigadeiro.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

De Gutemberg à Alcântara


A democratização dos meios de comunicação, tanto na esfera global como nacional, avançou um bocado nos dois últimos séculos, mas está longe do ideal. Da impressora adaptada por Gutemberg, na Inglaterra, nos idos de 1450, baseado na experiência chinesa de 500 anos antes, aos satélites que hoje giram no espaço, a rota é de dominação.

Em termos planetários, para nós, Portugal proibiu as impressoras em suas colônias por séculos a fio. O primeiro jornal impresso oficialmente em solo tupiniquim foi a Gazeta do Rio de Janeiro, em 1808, porta-voz do rei D. João VI, que veio se refugiar aqui das suas encrencas européias.

No mesmo ano, o maçom brasileiro Hypólito da Costa passou a imprimir o Correio Braziliense, em Londres, então capital do mundo ocidental. No Brasil, era um jornal ilegal, pois só ao estado era permitido possuir máquinas de impressão e imprimir o que quer que fosse.

O jornal pendia mais para o literário do que para o informativo, era editado uma vez por mês e vinha para o Brasil de contrabando nos navios. Hypólito não tinha posição política anti-colonialista, por exemplo. Seu jornal nem defendia a independência, debate que então tomava os meios intelectuais e políticos brasileiros, no boca-boca.

A rigor, porém, o primeiro jornal da terra de Gutemberg – o The Times -- surgiu só em 1785. Ou seja, apenas 23 anos antes dos dois jornais brasileiros, tanto o colonial de D. João, quando o privado, no exílio espontâneo de Hypólito. Mas, em ambos os casos, o caminho era o mesmo.

Quero dizer que a mídia moderna, desde os primeiros jornais, sempre esteve nas mãos dos poderosos, das classes dominantes, com sua visão de mundo. Falo da chamada grande mídia, porque sempre houve quem, no meio do caminho, tenha tentado formas alternativas de se comunicar com a sociedade com visões diferenciadas, mesmo que de modo limitado.

A fotografia surgiu nos 1870 e poucas décadas depois – 1906 é o ano de referência – ganhou movimento e virou cinema também. Eram, uma vez mais, esperanças de democratizar a informação. Mas, de novo também, ficaram nas mãos de quem tinha grana para pagar filmes, processos caros de produção e a distribuição.

O cinema, em verdade, se transformou em poderosa arma do imperialismo estadunidense, no período entre as duas grandes guerras e depois. Seja nos filmes normais, dos faroestes aos dramas existenciais, seja na produção para o público infantil, comandada por Walt Disney.

O Pato Donald e sua turma, inclusive o “brasileiro” Zé Carioca, fizeram a cabeça de gerações, com refinado contrabando da ideologia dominante, marcante também, com muita força, nas revistas em quadrinhos.

Nesse mesmo tempo surgiu o rádio, nova esperança de democratização dos meios de comunicação, mas, de novo, era pura ilusão. Os potentes transmissores em ondas curtas das rádios BBC, britânica, e da Voz da América, dos EUA, ganharam o mundo falando em dezenas de línguas.

No caso do rádio, a iniciativa privada entrou com força desde o princípio, mas seguindo a mesma linha de programação. E, de todo jeito, as emissoras mais potentes ficaram nas mãos dos estados, como a Voz e a BBC.

No pós-guerra, em vez de maneirar, houve esforço redobrado para confrontar as ondas de emissoras como a R’adio de Moscou, na antiga União Soviética, que veiculavam mensagens diferentes.

Nesse meio tempo, a televisão se tornou outro poderoso instrumento de dominação. Com custos de produção ainda mais caros e com regras de operação bastante rígidas, como no rádio, o aparelho estatal acabou tomando conta do pedaço.

As emissoras do mundo inteiro passaram a ser veículos das mensagens dos países centrais. Os programas de entretenimento eram os famosos “enlatados” vindos das matrizes e os noticiários seguiam as pautas das ditas “agências internacionais”, que sempre ditaram o jeito de se tratar cada tema.

Já na década de 1960, surgiam os primeiros indícios de um novo veículo de largo alcance, a internet. Nos EUA, centros militares e instituições como o MIT (Massachussets Institute of Tecnology) buscavam forma de integrar computadores distantes fisicamente, para uso militar e de grandes empresas dos mais diversos setores.

Três décadas depois estava em funcionamento a fantástica rede global e parecia, então, que agora a democratização havia chegado. De novo, porém, o sistema parece aberto, mas é perfeitamente controlável. Conversar abobrinha pode, mas no jogo pesado o controle é feito. Num conflito, a rede pode muito bem ser tirada do ar.

Começa pelo controle do tráfego de sinais, que é feito por satélites. Quem tiver satélite de telecomunicações terá a chance de certo controle. Caso contrário, terá suas comunicações absolutamente devassáveis, como é o caso do Brasil.

E aí, voltamos ao tema do Programa Espacial Brasileiro, que tem como referência a base de lançamento de foguetes de Alcântara, no Maranhão. A possibilidade de construirmos satélite e de lançá-los ao espaço existe, mas...

A pressão para que isso não ocorra é grande, mas decisões políticas podem garantir o avanço do processo . E a hora é agora. De outro jeito, seguiremos como no tempo das impressoras controladas.

A bem-vinda devassa

O espocar de escândalos na administração pública é reflexo de ações adotadas anos atrás pelo governo do ex-presidente Lula, para o controle dos próprios governos. Mas é um processo bem-vindo por todos os que defendem o bem comum, sem cor nem dor.


A ladroagem não é novidade, nem aqui, nem na China ou nos EUA. Os meios de se apropriar de recursos públicos é que mudaram. E a formas de se coibir os desvios também transmutam. Leis e mecanismos de investigação existem, mas, no Brasil, esbarram no fim da linha, na ação do Judiciário.

O ministro Jorge Hage, chefe da Controladoria-Geral da União, tem dito e repetido que os focos de corrupção que o próprio governo vem apontando são um pequeno pedaço do que existe. Mas o caminho é um só: chegar a um por um dos larápios. E isso tem apoio de Deus e todo mundo, ainda que muitos só o façam da boca para fora.

Aqui, vale voltar um pouco na história. A Controladoria foi criada por Lula já ao assumir, no seu primeiro governo. Para o cargo de controlador, Lula escolheu Waldir Pires, líder político baiano de extenso currículo de bons serviços à sociedade.

Ele levou para o novo órgão o advogado, ex-deputado federal, reconhecido pela postura ilibada, combativo e também baiano Jorge Hage.

Numa longa conversa que tive com o ministro Waldir, ao fazer um perfil dele para o jornal O Pasquim, ele me disse que devia a Hage a montagem do arcabouço da nova pasta, que era uma novidade para o mundo todo. E, agora, estão sendo criadas as secretarias estaduais com a mesma finalidade, num processo que chegará aos municípios.

É preciso ter claro que essas investidas do Ministério Público e Polícia Federal sobre focos de corrupção nascem na Controladoria. É ali que os descaminhos são plotados e, já documentados, vão para esses órgãos, que irão levar os processos adiante. Depois, é com a Justiça.

É mais do que um espinhoso caminho, é uma guerra continuada, que exige, inclusive, a formação de novos quadros. Mas os resultados a gente já pode sentir. Já podemos crer que os recursos públicos que existem no Brasil, com robustez, não ficarão nas mãos de picaretas travestidos de administradores e, sim, em benefícios à sociedade.

Mas há pedras no caminho. Podemos destacar duas. Uma, é a das Organizações Não-Governamentais (ONGs), entes criados no capitalismo moderno para democratizar o uso dos recursos públicos, que teoricamente são sem fins lucrativos, mas que em muitos casos enchem os bolsos de ladrões, dentro e fora do serviço público.

Há, é claro, incontáveis ONGs que são frutos de trabalho abnegado. É gente que se dedica a cuidar dos outros, a promover a ação comunitária, a agir em favor da qualidade de vida de todos. Mas, há os que se utilizam dessa fachada para crimes dos mais diversos.

Não quer dizer que as empresas convencionais estejam fora do circo. Muito pelo contrário. Não só no campo da infra-estrutura, da construção de estradas, estádios, prédios públicos em geral. Está no fornecimento de produtos, de medicamentos para a saúde, de serviços dos mais diversos. E envolvem todos os setores, até o nosso, do jornalismo.

O que falta é um sistema mais rígido de controle sobre quem vai aplicar esses recursos. Não se trata de novas papeladas, burocracias imbecis que só atravancam. São controles simples e baratos, de aferição de resultados das ações previstas nos projetos.

E aí entra a outra pedra, que é o Judiciário. Grande parte, a maioria das ações acaba esbarrando lá no final da linha, em decisões judiciais que facilitam a vida dos larápios. Com grana para pagar advogados (e também juízes), eles conseguem as mais incríveis interpretações de leis para se safarem de ilícitos mais que comprovados.

É fato, porém, que essa jornada começada por Lula e levada adiante com firmeza pela presidente Dilma tem angariado apoio de toda a sociedade. Quem remar contra, em qualquer dos Três Poderes, terá de explicar bem suas decisões.

Afinal, o tema ganhou as ruas, com amplo apoio popular. Quem confiar na impunidade, pelo jeito, vai se dar mal. Tomara!
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JAIME SAUTCHUK (*) - Publicado no portal Vermelho

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A Globo e Celso Amorim

Causou estranheza o estardalhaço feito pela Rede Globo, suas emissoras de rádio, jornais, revistas e páginas na internet do chamado sistema Globo sobre sua linha editorial “independente”, na semana passada.

O extemporâneo documento tinha, porém, bons motivos por parte da vênus platinada. Circulavam na internet notas com notícias vazadas da Globo sobre a própria Globo, mais propriamente sobre o jornalismo praticado pelos órgãos de comunicação da família Marinho.

Esse jeito de fazer jornalismo é corriqueiro na casa, mas este caso chamou mais atenção. Foi uma ordem da direção global para que seus jornalistas providenciassem matérias contra a indicação do embaixador Celso Amorim para o cargo de ministro da Defesa.

A pauta elaborada pela direção de jornalismo do grupo era de criar matérias dando conta de que a indicação de Amorim estaria causando reação nos meios militares. As matérias teriam que dizer que Amorim não era bem-visto nas casernas e que isto traria problema à presidente Dilma Rousseff.

É o estilo do Dr. Godinho, personagem de Eça de Queiroz, como dono de jornal, no romance O Crime do Padre Amaro, que já citei aqui em outra ocasião. Ferrenho anticlerical, ele determinava: “contra o clero, havendo denúncias, publiquemo-las; não havendo, inventemo-las”.

O mais grave, entretanto, é que o caso da Globo não é apenas com Celso Amorim. É com toda uma ala do Itamaraty, muito forte no Instituto Rio Branco, que forma nossos diplomatas, que defende a chamada política externa independente. A vênus prefere os que seguem os ditames de Washington.

Mesmo durante a ditadura militar, fielmente apoiada pelo sistema Globo, houve certos estremecimentos nesse campo. O principal foi durante o governo do general Ernesto Geisel (1974/79), em que o ministro das Relações Exteriores era Azeredo na Silveira.

Silveira deu corda toda ao embaixador Ítalo Zappa, então chefe do Departamento da África do Itamaraty, que implantou a chamada política pan-africana. Era a simples aproximação com aquele continente, com ações práticas.

O Brasil foi, por exemplo, o primeiro país a reconhecer a independência de Angola. E apoiava os movimentos anti-apartheid na África do Sul e na antiga Rodésia. Zappa foi, também, o principal promotor da aproximação brasileira com a Ásia, em especial com a China.

A Globo ficava tiririca, pois, afinal, apoiou os mais de vinte golpes de estado promovidos pelos EUA e aliados europeus na África, nas décadas de 1960 e 70. E apoiava a invasão estadunidense do Vietnã, que Zappa levou o Itamaraty a uma postura equidistante e, depois, de reconhecimento do governo socialista daquele país.

A política externa dos governos de Luis Inácio Lula da Silva mudou o rumo das coisas nesse campo. A diversificação de parceiros comerciais desatrelou por completo o Brasil dos EUA. E a postura política, em especial na Ásia, Norte da África e Oriente Médio deu ao Brasil um lugar de destaque na diplomacia mundial.

Quem abriu essas portas, quem devolveu o norte soberano à nossa diplomacia foi Celso Amorim. Há analistas mundo afora que dizem, inclusive, que se não fosse a aproximação de Brasília com Teerã, muito provavelmente o Irã já teria sido invadido, como o Iraque e o Afeganistão.

O documento divulgado pela Globo revela que o grupo maioral da comunicação social brasileira percebeu que não é mais soberano. Além de outros grupos fortes, a rede de internautas também adquiriu força capaz de fazer os arautos do Jardim Botânico virem se explicar de público.

Mas, se o sistema Globo já percebeu essa mudança, talvez não tenha percebido outras, de igual relevância. Uma delas, a mais importante no caso, é a de que também os militares brasileiros não são mais os mesmos. Nas três forças armadas do Brasil de hoje, soberania nacional é palavra de ordem. E Celso Amorim é sinônimo dessa postura.

Mais do que isso, a experiência do novo ministro da Defesa no campo militar é enorme. Afinal, o tema é parte inerente às relações internacionais. Nem o Itamaraty, nem os comandos militares vêem com bons olhos, por exemplo, a presença de tropas dos EUA na Colômbia, bisbilhotando as fronteiras daquele país com a Venezuela, Peru e Brasil.

Uma das reivindicações primordiais do Exército, Marinha e Aeronáutica é de que o governo de Dilma siga firme no reequipamento das forças armadas, com foco especial nas áreas de fronteiras. E esse foi tema do discurso de posse de Amorim no ministério.

Quanto à Globo, fica só comprovado, uma vez mais, que dali não sai muita lição de bom jornalismo.
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JAIME SAUTCHUK - Publicado no Portal Vermelho, em 10/09/2011

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Maldito Agosto

Às 8h15min da manhã deste sábado, dia 6 de agosto, temos motivo para ficarmos tristes, irados, indignados e preocupados. Naquele exato minuto, do mesmo 6 de agosto, em 1945, é que foi lançada a bomba tristemente batizada de “Little Boy” sobre a cidade de Hiroshima, no Japão, e tinha início, assim, o mais fulminante Holocausto que a Humanidade já viu.
 O mundo fixou estarrecido. Ninguém, nem mesmo os aliados dos Estados Unidos naquela guerra já minguante, imaginava que o ser humano seria capaz de tamanha atrocidade. Um genocídio cometido num espaço de tempo mínimo, sem a menor chance de defesa para populações inteiras.
E às 11h01 do dia 9 daquele mesmo mês, o mais incrível ainda ocorreria, pois uma nova bomba era lançada sobre a cidade de Nagasaki, também no Japão, matando de novo milhares e milhares de homens, mulheres, crianças, idosos e destruindo o que houvesse ao redor.
A primeira bomba era de urânio-235, a outra de plutônio-239. Ficou evidente que os Estados Unidos, sob o mando do então presidente Harry Truman e orientação científica de Robert Opppenheimer, queriam testar os dois petardos altamente letais e escolherem populações civis japonesas como cobaias de seus experimentos sanguinários.
 Mais de 200 mil pessoas morreram. A metade deles nos mesmos instantes em que as bombas explodiram, em dois massacres nunca antes sequer imaginados.
Segundo relatos de historiadores de diversas nacionalidades, a enorme carnificina não pararia ali. Outras bombas seriam lançadas ainda naquele agosto e nos dois meses seguintes, conforme revela a tenebrosa agenda do governo dos Estados Unidos. A interferência da antiga União Soviética, pela via diplomática, conteve novos ataques, levou o Japão a se render com dignidade e evitou uma catástrofe que talvez ninguém de nós estivesse vivo para protestar nesse momento de dor.
A URSS era da Tríplice Aliança, que combateu o Eixo, liderado pela Alemanha nazista, a Itália fascista e o Japão. Àquela altura, entretanto, a Alemanha e Itália já tinham sucumbido e o fim da guerra era uma questão de semanas, ou dias. Nenhuma outra explicação convence. A série de bombas atômicas era para experimentar as armas e demonstrar quem é que mandaria no mundo ao final do conflito.
Ainda hoje, as potências imperialistas, especialmente os Estados Unidos e outros membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), têm aumentado seus investimentos na corrida armamentista. São 850 bases militares espalhadas pelo mundo, muitas das quais escondem armas nucleares e químicas, numa constante ameaça a toda a Humanidade.
Calcula-se que hoje existam cerca de 23 mil ogivas nucleares apontadas para todas as partes do mundo, uma ameaça inaceitável. É preciso não apenas parar o fabrico dessas bombas. É preciso destruir as que existem.  Estaremos, assim, cumprindo o que determina a resolução da Organização das Nações Unidas de janeiro de 1946, que determina o fim das armas nucleares, mas que nunca foi cumprida.
Sabemos muito bem que uma terceira guerra global significará o fim da Humanidade. Todas as guerras são perversas e indesejáveis, mas o uso de armas desse tipo é ainda mais perverso e envergonham o ser humano.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Mensagem Giovenardi

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  FICA
De:Eugênio Giovenardi
 Escrever  Adicionar  Bate-papoPara:Sautchuk, Jaime
 Escrever  Adicionar  Bate-papoAssunto:FICA Data:29/07/2011 12:39 Convite_Sil... .jpg 147.65 KB Baixar todos os anexos
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Gostaria muito de participar. No ano passado, comecei a preparar minha ida e fato interveniente atrapalhou o projeto.
Gostaria de ter mais informações sobre a data, etc..
Aproveito para estender-lhe um convite.
Um abraço,.
Eugênio


Em 29 de julho de 2011 11:23, Graça Fleury <gracafleury@escolapiaget.com.br> escreveu:
Queridos amigos, amigas, conhecidos e admiradores de Paulo Bertran

Quero compartilhar com vcs da minha alegria pela indicação do nome de Paulo Bertran, como homenageado especial do FICA do ano que vem - 14° FICA.
Vou contar desde o começo.
Depois de muitos anos sem poder participar, fui prestigiar meu amigo Jaime Sautchuk,  agraciado com merecida homenagem, como idealizador deste festival, o qual, nas palavras de todos, já não é mais um evento, mas sim uma instituição. Após a cerimônia de abertura, conversando com outros amigos, resolvi lançar a idéia de que o próximo homenageado especial para 2012 fosse Paulo Bertran. Todos da roda apoiaram. Marquei , então, audiência com Gilvane Felipe, atual presidente da Agepel, e lá fomos, D. Helena Chaibub (mãe de Paulo) e Márcia Sabh (amiga e assessora de imprensa dos Memoriais de Bsb e Goiás).  Apresentei ao Gilvane as razões de tal indicação e ele foi muito receptivo. Quis confirmar sua adesão, já que ele me dissera que seria simpatizante (somente?) com a idéia; perguntei se ele era só simpatizante ou se levantaria esta bandeira comigo. Ele disse-me que sim, que levantaria mas.... mas.... o governador tinha que bater o martelo. Jaime Sautchuk escreveu um pedido formalizando nosso pedido oral. Algo muito bem escrito.
Dias depois o Governo, como todo ano, vai transferido para a Cidade de Goiás e lá encontro, tomando sorvete na praça do Coreto, Vilmar Rocha (Secretário de Estado da Casa Civil) o ilustre josefino (pq nasceu em S. José do Tocantins – atual Niquelândia) como Paulo o chamava e meu amigo, muito antes de Paulo. Conto para ele da minha idéia. Coincidentemente, ele estava esperando para uma reunião,  que seria sobre o FICA 2012.
A reunião foi profícua e nosso Governador parece muito empenhado em alavancar Goiás, muitos planos, não só para o próximo FICA. Já no finalzinho, criei coragem para falar e ao me levantar o próprio Governador me atalhou e disse: Graça, já sei o que vc quer e eu concordo. Então pedi a ele que anunciasse – ele mesmo – a minha idéia. Ele então anunciou para as mais de 60 pessoas presentes, que Paulo Bertran será o próximo homenageado especial para o FICA de 2012. Houve uma vibração grande, principalmente por parte de  pessoas que são muito importantes para a realização deste evento . Outros homenageados foram: este ano Veiga Vale, em outros anos Cora Coralina, Goiandira do Couto e .... cada ano é um.
Bom, agora começa um trabalho grande para mim, que na verdade eu não havia calculado. Jaime Sautchuk já sugeriu várias e ótimas idéias  Um Ponto de Cultura, que já tem imagens de Paulo, veio falar comigo, a Sub secretária estadual de educação quer que eu faça uma exposição sobre vida e obra de Paulo para que todos os professores fiquem conhecendo melhor e possam planejar atividades em suas aulas, e assim vai.... Amanhã, sábado, haverá outra reunião, esta não somente para o FICA, mas também para o planejamento de obras que trarão mais turistas para a cidade – sugestão do próprio governador – restauração do balneário Cachoeira Grande e duplicação da GO-070.

Como disse acima, quero compartilhar com vcs minha alegria, mas também pedir sugestões para atividades a serem desenvolvidas pelo Memorial Paulo Bertran – Instituto Bertran Fleury, durante todos estes meses anteriores a junho próximo – data da realização do FICA.

O meu carinho a todos.
Graça




--
Humanamente
Eugênio Giovenardi

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 Meus Livros

 Meu novo romance - SILÊNCIO - Thesaurus, Brasília, será lançado no CARPE DIEM, 104 SUL, dia 4 de agosto.
1.   O HOMEM PROIBIDO, 1997 -  2a Edição -  2009, ROMANCE
2.    POEMAS IRREGULARES, 1998
3.    EM NOME DO SANGUE, 2002 -- Prêmio Açorianos de Literatura, 2003, ROMANCE
4.    VENTOS DA ALMA, 2003, POESIA
5.    OS POBRES DO CAMPO, 2003, ENSAIO
6.    SOLITÁRIOS NO PARAÍSO, 2004, PROSA E VERSO
7.    O RETORNO DAS ÁGUAS, 2005, NASCENTES
8.    A SAGA DE UM SÍTIO, 2007, CRÔNICAS CAMPESTRES
9.    AS PEDRAS DE ROMA, 2009, ROMANCE
10.  HELIODORA, 2010, ROMANCE
11.  SILÊNCIO, 2011, ROMANCE

(61) 9981-2807



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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Câmeras e Cidadania

A paranoia da insegurança pública é a justificativa para uma avassaladora invasão da privacidade das pessoas no mundo inteiro, inclusive no Brasil. As câmeras espalhadas em lugares públicos vão muito além da finalidade alegada e servem para muitos outros usos, o que fere os direitos dos cidadãos.

Começa pelo começo. O regime sócio-econômico hoje predominante no mundo não convive com o pleno emprego e mantém o exército de reserva de que falava Karl Marx. Ou seja, é a massa de desempregados, que serve para regular os salários, para baixo. É a lógica capitalista.

Além disso, dentro do próprio sistema há enorme defasagem entre o avanço tecnológico, que promove a automação da produção em todos os setores, e a carga horária dos trabalhadores. Basta ver quantas pessoas são necessárias, hoje, para produzir mil automóveis. Ou para plantar, colher e carregar mil hectares de soja.

Isto, somado ao crescimento da população na maioria dos países, gera um contingente enorme de supostos desocupados, que, em boa parte, se ocupam do crime. As organizações do crime são gigantescas e contam com a proteção de polícias e do judiciário, ou seja, advogados e juízes. Mas os avulsos seguem o mesmo rumo.

O magnata vive em castelos e anda de helicóptero, meio de transporte em que São Paulo é a cidade campeã mundial. E é largamente usado no Brasil inteiro. Já o cidadão comum é forçado a amurar as casas, trancar portas e janelas, fazer mini-fortalezas para se proteger em verdadeiros presídios familiares.

A violência está sempre por perto, mesmo em cidades menores, tidas até poucos anos atrás como tranquilas. É comum vermos na mídia que a polícia pegou tal e qual com a ajuda de imagens registradas em algum lugar, mas no dia seguinte o cara está nas ruas de novo. E as câmeras continuam lá.

É certo que essas câmaras são instrumentos úteis em muitos casos, mas os limites dessa vigilância é que não são claros. A transmissão direta de sessões do legislativo e do judiciário, inclusive do Supremo Tribunal Federal, por exemplo, são de grande serventia pública, com caráter até educativo.

Mas, de todo modo, essas emissoras só transmitem as sessões públicas dessas instituições. E a gente sabe que as negociatas não ocorrem nessas ocasiões. Ocorrem no gabinete ou na fazenda do prefeito, em hotéis de luxo e outros recintos onde não há olhos eletrônicos.

Se a investigação da polícia, dos tribunais (em especial os de contas), das corregedorias de órgãos de governo, do ministério público, de qualquer fiscalizador, enfim, depender dessas imagens, pobres de nós.

A proliferação de câmeras por todo lado, portanto, não está fiscalizando o crime organizado, nem os grandes contraventores. Bisbilhotam a vida do cidadão comum, em verdade. É salvaguarda de patrimônio, não da cidadania.

Em muitos lugares, até o interior de residências é filmado, sem quem os moradores saibam. A máxima “quem não deve, não teme” não vem ao caso. Pela lei, nem a polícia pode entrar numa habitação sem autorização judicial.

Este é um aspecto da questão. Mas há muitas outras variantes. Vejamos situações corriqueiras. Numa greve de trabalhadores de algum setor, por exemplo, seus líderes são identificados no ato. E punidos por isso.

Ou, então, a pessoa que não quer mostrar suas preferências religiosas, sexuais ou políticas. Ela teria direito ao sigilo, mas não tem.

Mais grave ainda é o fato de que não há controle nenhum sobre esses bancos de dados formados aleatoriamente. Nem regras para seu armazenamento. Quem fará uso dessas imagens? Por quanto tempo podem ficar nos arquivos?

Afinal, são peças que podem ser usadas para muitas finalidades, inclusive chantagens pessoais ou mesmo políticas. Ou seja, são potenciais armas de crimes.

O Ministério da Justiça está estudando o assunto. E, no Congresso, há propostas tramitando. O certo é que o governo tem instrumentos para controlar o setor. E pode partir do que é consenso em órgãos do próprio governo e de entidades de universidades e de defesa da cidadania.

A proposta é: quem quiser gravar imagens terá que ter autorização do governo, e este deve determinar as regras e fiscalizar o uso. E, é claro, o cidadão precisa ter instrumentos para reparar eventuais danos.

Ou, então, vamos colocar câmeras em todos os lugares.
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JAIME SAUTCHUK

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Futebol e gravata

Quando o técnico da Seleção Brasileira de Futebol, Mano Menezes começou a aparecer nos estádios de terno e gravata, chegou a dar arrepios. Primeiro, porque essa peça da vestimenta efetivamente não combina com ambientes esportivos. Segundo, porque nos traz à (triste) memória de Wanderley Luxemburgo, o técnico engravatado que emporcalhou a imagem da Seleção e do próprio futebol brasileiro com seus trambiques.
A gravata vem caindo em desuso nos próprios ambientes onde é usada desde quando surgiu como parte da indumentária formal. Foram os mercenários croatas (os “cravates”) levados por Luis IV e o Cardeal Richelieu na década de 1630 para defender seu regime, na França, que, por causa do frio, davam um nó em seus cachecóis e despertaram a simpatia da realeza francesa. Virou moda com o nome de cravat e ficou.
Em países tropicais nem se justifica o uso desse adereço. Mas, por influência do colonialismo, a burguesia tupiniquim aderiu ao hábito e a moda foi ficando. Muitas vezes, por imposição.
Eu mesmo, quando vou ao Congresso Nacional, em Brasília, levo uma no bolso, por precaução. É que, em horas de sessão da Câmara ou do Senado, há lugares em que o acesso depende da gravata. Uma bobagem que, pelas previsões, está com os dias contados, mas que ainda vigora.
Muitos chefes de estado ou de governos ocidentais têm abolido o uso da maldita gravata em muitas ocasiões. Até mesmo em alguns momentos onde, pela tradição, seu uso seria justificável. Inclusive liderança conservadoras, como George Bush, por exemplo. Mas, são muitos os exemplos, basta prestar atenção para comprovar.
Agora, em ambientes esportivos, a gravata vira coisa estranha. Não combina de jeito nenhum. Mais do que isso, cria um ar de prepotência, arrogância, que não nada tem a ver com uma seleção de futebol de um país tropical, abençoado por Deus, bonito por natureza, com muita alegria, calor e despojamento.
O Mano Menezes que a gente conhece desde antes de sua passagem pelo Corinthians era um sujeito solto, espontâneo, sempre sorridente. O atual é sisudo, custa dar um sorriso, e, o que é o mais grave: engravatado! Tomara que não seja influência do dono da Seleção, o trambiqueiro-mor e presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira.
Se isso tem ou não algo a ver com a eliminação do Brasil na Copa América, é difícil saber. O certo é que Mano mudou. E a nós, agora, resta torcer pela Venezuela, seleção de um país onde nem o presidente da República usa gravata.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Escritório na Papuda

Está aí no blog, mais atr'as,  um artigo que fiz sobre quem está preso no Brasil. A maior parte dos bandidos, em especial do crime organizado, está nas ruas. Mas, alguns que estão presos se dão ao luxo de administrar seus negócios ilícitos a partir de prisões. Vejam este caso, ocorrido há algumas semanas.
Um a migo meu, professor universitário, tem um filho preso no presídio da Papuda, no DF, por porte de drogas. Era primário, mas pegou vários anos de cadeia. O pai vai visitá-lo semanalmente. Outro dia, porém, o pai atrasou, porque, ao chegar ao estacionamento da universidade, tinham roubado seu  carro. Um carro antigo, de estimação. Ao narrar o fato ao filho, ele chamou um outro prediário e narrou o que se passava. O outro apenas pediu o número da placa, cor, modelo do carro e o número do celular do professor. O pai  foi embora sem dar valor ao sucedido. Mas, algumas horas depois, tocou seu celular. A voz de um homem do outro lado disse apenas:
-- Doutor, eu tô ligando só pra avisar que o seu carro tá estacionado no posto (disse o nome e local) e a chave ta' dentro. O senhor desculpe, viu? Tchau.
O que dizer?.....

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ricardo Teixeira, O Rei da Bolada

O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, está conseguindo ir além do que se previa para seus mandatos de ladroagem. A gangue, chefiada pelo seu sogro, João Havelange, comanda a FIFA há décadas, num suceder de malabarismos, mas agora coloca em risco o próprio futebol.

No livro “Os Descaminhos do Futebol”, publicado há dez anos, eu já contava a história dessa dinastia. Mostrava, inclusive, como o então falido empresário Ricardo Teixeira entrou no mundo do futebol, pelas mãos de seu então sogro, mas eterno aliado, João Havelange, com ajuda de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.

Vale aqui, desde logo, um parêntese, para refrescar a memória. Havelange foi atleta de pólo aquático, e até representou o Brasil em competições internacionais, como as Olimpíadas de Melbourne, em 1956.

Mas, desde 1937, mesclava sua atividade esportiva com as de dirigente de entidades esportivas e de empresário. Era dono de loja de armas no Rio de Janeiro, e, também, da empresa de ônibus interestadual Cometa.

Ele se elegeu presidente da antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD) em 1956. A parte de futebol, porém, ficava com o empresário paulista Paulo Machado de Carvalho, que levou o Brasil à vitória na Copa de 1958, foi chamado pela mídia de “Marechal da Vitória” e homenageado pelo presidente Juscelino Kubitschek em monstruosa festa no Pacaembu, em São Paulo. E repetiu o feito no Chile, na Copa de 1962.

Havelange sequer foi às duas copas. Mas, vendo que o futebol era o filé dos cifrões nos desportos, expulsou Paulo Machado e assumiu o setor. No processo da Copa de 66, aprontou mil e umas. Montou um time com 45 jogadores para rodar o mundo e, na competição mesmo, obteve o retumbante fracasso que todos conhecemos e amargamos.

Pelé foi peça chave para eleger Havelange presidente da FIFA, em 1974. Ele ajudou a realizar, aqui, o “mundialito” de 72, uma mini-copa, sem a participação dos europeus.
E rodou o mundo criando entidades esportivas nacionais (as CBFs de países africanos e asiáticos). Assim, granjeou votos para Havelange se eleger, no plano global.

No “mundialito”, a CBD gastou perto de 25 milhões de dólares, vindos dos cofres públicos, o que chegou a irritar até o então presidente, general Ernesto Geisel. Mas ali começou o processo de separação do futebol dos esportes olímpicos, com a criação da CBF e do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), dividindo a CBD.

Mas Havelange não desistiu. Refez relações com Pelé, que estavam abaladas, para colocar seu genro na CBF. A história já estava no livro:

“Ainda em 93, nas eliminatórias da Copa dos EUA, quando  o Brasil ia aos trancos e barrancos, a imprensa assediou Teixeira, antes do jogo contra o Uruguai, no Maracanã. Um repórter perguntou:

-- E se o Brasil for desclassificado?

Teixeira foi curto e grosso:

       -- Pra mim, nada. Vocês é que vão ter problemas, porque não vão ter o que fazer. Eu sou um homem rico.

Diante do dito, o jornalista Armando Nogueira recheou seu texto, sempre brilhante, com uma frase que resumia tudo, e entrou pra história: ‘Sou um homem rico, não. Fiquei rico’.

Ficou rico, rapidinho, na CBF. Foi vapt-vupt.

Pelé contou inúmeras vezes que, quando Havelange lhe procurou para propor o nome de Teixeira para a CBF, seu argumento tinha dois pilares básicos. Um: embora sendo de outro ramo, seu genro tinha boas idéias para o futebol brasileiro. Dois: além disso, enfrentava dificuldades como empresário.

Digamos que Teixeira precisava ganhar a vida num novo território, já que como empresário não estava dando certo. E justo na CBF, onde, por lei, dirigentes não poderiam ser remunerados.

Quatro anos depois, ele mesmo já se dizia um homem rico, que não estava nem aí para os resultados da Seleção.

É bom se antenar para o conceito de “rico” que essa gente tem, que não é pouca brincadeira. Fortuna igual à que Ricardo Teixeira granjeou em menos de uma década, muita gente da elite brasileira só conseguiu depois de quatro ou cinco gerações. É dinheiro fácil, rápido, sem assepsia.

Mas aí entra a sorte – ou um traço da cultura brasileira. Como na política há a máxima “rouba, mas faz”, notabilizada por Adhemar de Barros, quando governador de São Paulo, no futebol os resultados também sublimam os atos de dirigentes corruptos.

Pois foi assim que se safou, à época, Ricardo Teixeira. Pouco tempo depois das denúncias de Pelé, o Brasil ganhou a Copa de 94, e virou tetracampeão. Ninguém mais queria saber de propinas que rolavam soltas na CBF.

Pra quem já nadava de braçadas, a correnteza ficou ainda mais favorável – e a CBF se emporcalhou de vez. Tudo o que se pode imaginar de ruim virou o cotidiano da entidade máxima do futebol brasileiro. Um mal que contaminou federações estaduais e metropolitanas, e clubes.

Um indicativo de que o resultado da Copa de 94 havia aberto de vez as porteiras da prepotência ocorreu logo em seguida. O avião que trouxe a Seleção de volta para o Brasil virou uma nau contrabandista, algo de fazer inveja aos piratas de séculos atrás.

O vôo da direção da CBF e seus convidados, que incluía os jogadores da Seleção, trazia 17 toneladas de carga. No entender dos dirigentes, diante de tanta alegria da conquista, não haveria razão para os fiscais da alfândega empombarem com tão sutil contrabandozinho.

Mas não deu certo. O caso virou escândalo internacional, já que era um prato feito para a imprensa de países que amargavam a derrota na Copa. As conversas ríspidas de Teixeira com funcionários da Receita foram registradas pela TV e indignaram o Brasil inteiro.

Primeiro, ele ameaçou voltar para os EUA com toda a comitiva. Depois, conseguiu que a carga fosse levada a um hotel do Rio de Janeiro. Ali, integrantes da comitiva declararam algumas compras que traziam. Teixeira declarou uma sela de montaria e eletrodomésticos.

Pelo acordo feito com a Receita, a própria CBF fez um inventário dos bens que vinham na carga – e pagou o imposto de tudo, independente de quem fosse. Só que o peso total dos produtos declarados era de pouco mais de mil quilos. As outras 16 toneladas, ninguém sabe, ninguém viu.

Em verdade, porém, pelo menos parte da enorme carga apareceria poucos meses depois, quando foi inaugurada a luxuosa e bem equipada boate-restaurante El Turf, no Rio. Seu proprietário: Ricardo Teixeira.”

O patrimônio de Teixeira, hoje mostrado em algumas redes de TV, é de fazer inveja a qualquer milionário do mundo. Ele faz da CBF uma entidade mais que privada. É particular. Se, há dez anos, atrás estava do jeito aí relatado, hoje é muito pior, mas não há punição, não há nada.

Se a Seleção for bem ou mal na Copa América ou em 2014, na Copa do Mundo, no Brasil, Tanto faz.
Mas é possível moralizar os esportes no Brasil. E isso começa por ações enérgicas contra os mais descarados bandidos do setor, e o primeiro deles é Ricardo Teixeira. Havelange, pelo avançado da idade, pode até morrer em paz.
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JAIME SAUTCHUK - Publicado no Portal Vermelho em 13/07



Curitiba não é mais aquela, mas segue bela

Estive em Curitiba semana passada, para uma atividade do Cebrapaz e da Secretaria de Direitos Humanos. Fazia tempo que eu não passava por lá com algum tempo de folga para rever a bela cidade, onde passei minha adolescência, dos 13 aos 18 anos. A cidade cresceu enormemente. Sua área metropolitana hoje tem mais de 3 milhões de pessoas. O impacto disso é sensível em todos os aspectos da vida, até mesmo no transporte coletivo, área em que a capital paranaense é referência. Mas em outras áreas também. A criminalidade, ali, só perde para o Rio de Janeiro, em número de assassinatos, por exemplo. Mas, de todo jeito, a cidade segue bela e faceira.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Matéria sobre Agente Laranja agita ampresas de agrotóxicos

Quatro empresa estadunidenses produtoras do 2,4D, um dos agentes tóxicos apreendidos pelo Ibama por que eram usados para desfolhar a floresta na Amazônia, reagiram à matéria sobre o Agente Laranja na região. Eles têm uma Força-Tarefa para "esclarecer a opinião pública" sobre seus venenos. Mandaram uma mensagem eletrônica que eu, em nome da democracia nos meios de comunicação, reproduzo abaixo. Junto vai um documento técnico por eles enviados, dependurado no email.
A matéria que gerou a reação continua no blog. Vale ler de novo para tirar conclusões.
 São esses os documentos:


"Caro, Jaime Sautchuk. Tudo bem?

Meu nome é Mariana, sou assessora de imprensa da Força-Tarefa. Li o seu texto “O uso do Agente Laranja na Amazôniapublicado no site www.vermelho.com.br. Gostaria de aproveitar para apresentar um material explicativo sobre o defensivo agrícola 2,4-D, mas antes quero explicar o que é a Força-Tarefa: somos um grupo formado por representantes de quatro empresas – Atanor, Dow AgroSciences, Milenia, Nufarm –  que, apoiado por acadêmicos, tem como objetivo gerar informação técnica sobre tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas, além de apoiar projetos que abordem esta questão, como o Projeto Acerte o Alvo – evite a deriva na aplicação de agrotóxicos, realizado no Paraná, e estimular o uso correto de equipamento de proteção individual. Defendemos que o uso correto das tecnologias e a importância de se evitar a deriva são essenciais para garantir a eficácia e a segurança ambiental na utilização de defensivos agrícolas. O 2,4-D é do ponto de vista normativo um produto que obedece às regulamentações atuais ao redor do mundo. Ele tem sido erroneamente associado ao produto utilizado na guerra conhecido como “Agente Laranja”. Apresentamo-nos como fonte de informação e esclarecimento apoiada por estudos acadêmicos que visa desmistificar a utilização do 2,4-D e de outros defensivos agrícolas e instruir o produtor sobre a importância do uso correto de tecnologias que garantem a qualidade da aplicação de agroquímicos.
No anexo, você encontra o material explicativo sobre o 2,4-D.
Agradeço pela atenção e me coloco à disposição para qualquer esclarecimento.

Abraços, "

Este, o documento anexado:

"HERBICIDA 2,4-D E ASPECTOS DE SEGURANÇA À SAÚDE E AO MEIO AMBIENTE

1. Introdução

O 2,4-D, nome simplificado do ácido diclorofenoxiacético, é um dos herbicidas mais comuns e antigos do mundo. Foi desenvolvido na década de 40 como parte do esforço de um grupo de cientistas.

No início de 1941 verificou-se que o 2,4-D tinha potencial para afetar os processos de crescimento em plantas de um modo semelhante aos reguladores de crescimento naturais de planta, razão pela qual o produto foi descrito depois como “hormonal”. O termo hormonal foi posteriormente corrigido para regulador de crescimento, visto que hormônios são substâncias produzidas apenas por animais e não se aplica a plantas.

Após o final da década de 40, vários grupos continuaram a pesquisar o produto e desenvolveram o seu uso como herbicida.

Hoje o 2,4-D e outros produtos da mesma família química, conhecidos como fenoxiacéticos e atualmente classificados como ácido ariloxialcanóico, estão sendo usados mundialmente como uma ferramenta básica na agricultura moderna. A razão para esse sucesso não é só devido à sua grande atividade como herbicida, mas também devido a um dos melhores perfis toxicológicos disponíveis e uma excelente relação custo benefício.

O uso do 2,4-D vem crescendo desde a sua introdução no mercado, no início devido às suas vantagens como um herbicida seletivo de baixo custo e, ultimamente com a adoção do desenvolvimento da prática do plantio direto (que iniciou o conceito de agricultura ambientalmente sustentável) como uma ferramenta insubstituível para controle de plantas daninhas.

Com mais de 60 anos no mercado, o 2,4-D é uma das substâncias químicas mais estudadas no mundo. Para atender atualmente uma regulamentação mais detalhada, mais de 40.000 estudos foram realizados por diferentes instituições de pesquisas acadêmicas e governamentais de diferentes países.

O 2,4-D é sob este ponto de vista normativo, é um produto que apesar de estar há mais de 60 anos no mercado obedece às regulamentações atuais ao redor do mundo.

2. Situação Regulatória

O 2,4-D é uma das substâncias químicas mais estudadas no mundo. Mais de 40.000 estudos foram realizados por diversas instituições de pesquisas acadêmicas e governamentais de países diferentes.

O 2,4-D está registrado em mais de 70 países incluindo: Adria, Algeria, Argentina, Austrália, Belarus, Belize, Bolívia, Brasil, Bulgária, Camerões, Canadá, Chile, China, Colombia, Costa Rica, Costa do Marfim, Croácia, Cuba, Cyprus, Equador, El Salvador, Etiópia, Finlândia, França, French Dom-Tom, Gana, Guatemala, Grécia, Guiana, Honduras, Hungria, Iraque, Itália, Jamaica, Japão, Latvia, Líbia, Lituania, Madagascar, Malásia, Ilhas Mauricius, México, Morrocos, Nova Caledônia, Nova Zelândia, Nicaragua, Panamá, Paraguai, Peru, Filipinas, Polonia, Porto Rico, República Tcheca, República Dominicana, Romênia, Russia, África do Sul, Espanha, Taiwan, Trinindade & Tobago, Turquia, Ucrânia, Reino Unido, Estados Unidos, Uruguai, Venezuela, Vietnã, Zambia, etc...

O 2,4-D está incluído no Anexo I da Comunidade Européia em 2001, o que significa que o registro de formulações a base de 2,4-D pode ser solicitado em qualquer país membro da Comunidade Européia. A Comissão Européia através de sua Diretoria Geral de Proteção ao Consumidor e à Saúde concluiu o seguinte na revisão final do 2,4-D:
“’... resíduos provenientes dos usos propostos, consequentes de aplicações consistentes com boas práticas agrícolas, não apresentam efeitos danosos para saúde humana ou animal”
“...nas condições de uso propostas não existem efeitos inaceitáveis ao meio ambiente...”
Não existe evidência de carcinogenicidade para mamíferos.
“... não foi estabelecida associação clara entre câncer e exposição a herbicidas fenoxiacético nos estudos epidemiológicos disponíveis...”

O 2,4-D foi elegível ao re-registro nos Estados Unidos de acordo com a decisão publicada pela Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA) no dia 08/08/2005. O documento com a decisão da EPA (RED) conclui que o 2,4-D não apresenta riscos para a saúde humana quando seus usuários seguem as instruções de rótulo do produto.

Em 16 de maio de 2008, a Agência Regulamentadora do Canadá (PMRA), concluiu em suas reavaliações que o 2,4-D atende as rígidas normas de saúde e segurança e como tal pode continuar a ser vendido e utilizado.

O 2,4-D não é proibido em nenhum país e as restrições existentes em alguns países são meramente relativas ao uso agronômico do produto, tal como volatilidade de ésteres de cadeia curta (Exemplo: 2,4-D Éster Butílico) e proximidade à culturas sensíveis tal como algodão. No Brasil somente são comercializadas as formulações amina, as formulações com éster de cadeia curta não são mais comercializadas.

O produto não é volátil sendo improvável que atinja outras lavouras por volatilização, os problemas de fitotoxicidade proporcionado em cuturas sensíveis é causado pela deriva aerotransportada. A solução é melhoria na tecnologia de aplicação.

3. Importância Agronômica

O 2,4-D é um herbicida eficiente para plantas daninhas de difícil controle sendo ferramenta importante para evitar a resistência e de baixo custo quando comparado com outros herbicidas utilizados para o mesmo fim.

Caso o 2,4-D não fosse utilizado no mercado agrícola Brasileiro, provocaria o aumento médio anual nos custo de controle de plantas daninhas na ordem de R$ 827 milhões, que representa cerca de 420% a mais nos gastos com o controle das infestantes.

O 2,4-D é um dos herbicidas mais utilizados no mundo. No ano de 2007 foram utilizadas em toneladas de ingrediente ativo na Argentina 9.500 ton (13,6 MMlts formulado), México, Caribe e Andes 9.200 ton (13,2 MMlts formulado), EUA 30.000 ton (43 MMlts formulado), Brasil 13.000 ton (18.6 MMlts formulado). Mundialmente 100.000 toneladas de ativo ou 140 Milhões de Litros de produto formulado foram utilizados.

4. Aspectos toxicológicos

A toxicidade do 2,4-D tem sido extensivamente analisada. Por ser um produto bastante antigo e ao mesmo tempo muito utilizado, essa molécula tem passado por constantes reavaliações pelos principais Órgãos Normatizadores Mundiais.

No Brasil, a ANVISA, agência responsável por avaliar e classificar toxicologicamente os defensivos agrícolas, está reavaliando o 2,4-D visando responder a possíveis  questionamentos levantados por um projeto de lei federal.

4.1. Avaliação Toxicológica realizada pela Organização Mundial da Saúde (FAO/OMS).

A Organização Mundial da Saúde (OMS), analisou o 2,4-D nos anos de 1970, 1971, 1974, 1975 e mais recentemente em 1996; o Comitê responsável por essas avaliações é aquele que constitui a Reunião Conjunta OMS / FAO para avaliar resíduos de produtos fitossanitários em alimentos e aspectos toxicológicos e que é constituída por cientistas de notório saber da Comunidade Cientifica Internacional. Essa reunião ocorre anualmente na cidade de Roma, Itália.

Nessa reavaliação foram feitas as seguintes conclusões:
a)    Metabolismo e excreção: 2,4-D é um produto rapidamente absorvido, distribuído e excretado após a administração oral; 85 a 94% é excretado não metabolizado pela urina em 48 horas.
b)    Toxicidade aguda: O 2,4-D seus sais de amina e ésteres são levemente tóxicos via oral e dérmica, não provocam irritação dérmica e a formulação amina produz severa irritação ocular.
c)    Toxicidade crônica: Estudos crônicos foram realizados em animais de laboratórios e o NOEL estabelecido foi de 1 mg/ Kg peso corporal/dia (dose que não ocasionou efeitos adversos administrada pelo período de 2 anos)
d)    Carcinogenicidade: Não houve evidência de carcinogenicidade
e)    Mutagenicidade: Estudos in vivo e in vitro demonstraram que o 2,4-D e seus sais aminas e ésteres não são mutagênicos.
f)     Reprodução: Não causa defeitos congênitos e não afeta o processo reprodutivo.

4.2. Avaliação Toxicológica realizada pela Agência de Proteção de Ambiental dos Estados Unidos (EPA)

Por solicitação da EPA foram realizados a partir de 1988 mais de 270 estudos envolvendo vários aspectos (toxicidade, ecotoxicidade, resíduos, físico-químicos), visando a reavaliação de 2,4-D.

Todos os estudos submetidos (realizados em diferentes laboratórios dentro dos Estados Unidos) foram avaliados e aprovados pela EPA.

Apresentamos a seguir um sumário das conclusões da Agência Regulamentadora dos Estados Unidos:

a)    2,4-D tem moderada a baixa toxicidade aguda com DL50 variando de 699 mg / kg p.c. a 896 mg / kg p.c. para a forma éster (Exemplo: DL50 da cafeína é menor e da aspirina é maior).
b)    2,4-D tem baixa toxicidade no processo reprodutivo;
c)    2,4-D não causa defeitos congênitos;
d)    Improvável que 2,4-D cause câncer;
e)    2,4-D tem baixo potencial para causar neurotoxicidade tanto em exposições agudas como a longo prazo;
f)     2,4-D não causa danos genéticos.

5. Comportamento no Ambiente

5.1. Degradação no solo

O 2,4-D que tem contato com a folhagem das plantas é absorvido, degradado e deslocado da superfície foliar. Estudos mostram que apenas em torno de 6% do 2,4-D é deslocado da folha e, chega diretamente ao solo ou é lavado das plantas logo após a aplicação, sendo rapidamente degradado. A degradação microbiana é a mais importante forma de degradação do 2,4-D. Fatores que afetam a degradação microbiana terão impacto na degradação do produto. Lixiviação, absorção, volatilidade, fotólise e hidrólise exercem pequena contribuição na degradação do produto no solo. Outros fatores de degradação são:

a)    Umidade do solo: o nível de umidade exerce o primeiro impacto na velocidade de dissipação do 2,4-D (via atividade microbiana) mas, também tem impacto na quantidade do produto que deve lixiviar. Bons níveis de umidade no solo favorecem maior atividade microbiana e uma degradação mais rápida.
b)    Matéria orgânica do solo: altos níveis de M.O. reduzirão a atividade herbicida do 2,4-D e seus movimentos através do solo de duas maneiras: o 2,4-D é adsorvido na matéria orgânica reduzindo a sua mobilidade no solo e, altos níveis de M.O. proporcionam maior atividade microbiana para degradar o produto na solução do solo.
c)    Textura do solo: desde que o 2,4-D não é muito adsorvido à argila, o seu teor não tem muita influência na degradação. O produto tem um maior potencial de se mover no solo do que os herbicidas que são adsorvidos. Entretanto, o teor de argila pode significar uma importante barreira física no movimento dos herbicidas através do solo, impedindo o fluxo de água.
d)    pH do solo: a atividade microbiana é otimizada em pH entre 6,5 e 8,0. Em pH menor que 6, a atividade microbiana decresce, diminuindo a degradação. O pH encontrado em solos agricultáveis não tem um impacto significativo na atividade microbiana.
e)    Temperatura do solo: temperaturas de 18,3°C a 29,4°C são ótimas para uma rápida degradação microbiana do 2,4-D. Esta atividade cessa abaixo de 10°C e acima de 43,3°C.

5.2. Persistência no solo

A EPA avaliou  78 estudos sobre destino ambiental do produto que confirmaram que o 2,4-D tem uma meia-vida no solo curta. Em 35 estudos nas mais diferentes áreas dos EUA a profundidade máxima onde o produto foi encontrado variou de 15 a 30 cm em solos argilosos e, de 40 a 60 cm em solos com baixo teor de matéria orgânica.

A  meia-vida no solo variou de 6,4 dias em solos leves a 8,3 dias em solos com alto teor de matéria orgânica; como resultado é improvável que o 2,4-D atinja lençóis freáticos.

A meia-vida do produto em águas naturais foi de 2 a 4 semanas embora em áreas onde havia boa concentração de microorganismos, como em áreas de arroz irrigado, a meia-vida foi tão curta como 1 dia. A forma ácida de 2,4-D bem como os grupos amina e éster metabolizam-se para compostos de toxicidade não significativa terminando por formar CO2.

O 2,4-D é considerado um produto biodegradável e sob condições normais, o produto 2,4-D não é persistente no solo, água ou vegetação.

5.3. Comportamento na Água

O uso de 2,4-D no controle de plantas aquáticas é bastante difundido e estudado mundialmente (um dos 6 herbicidas aprovados pela EPA para uso em ambientes aquáticos).
O 2,4-D é degradado principalmente por microorganismos aeróbicos e sob condições anaeróbicas sua degradação é bastante lenta em água e sedimentos. Por isso, as aplicações aquáticas devem ser feitas com bastante critério e rigor.

A Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA) considera que a contaminação de águas subterrâneas pelo 2,4-D não é preocupante. Dados laboratoriais demonstram que o 2,4-D, apesar de relativamente móvel no solo, apresenta rápida degradação, o que impede que haja potencial de contaminação de águas subterrâneas. Podem ocorrer fontes de contaminação de águas subterrâneas se o produto for utilizado sem cuidado ou houver deriva não intencional.
O EPA considera que a contaminação de águas superficiais pelo 2,4-D não é preocupante devidos às suas características biológicas e toxicológicas.

6. Esclarecimentos

O 2,4-D tem sido erroneamente associado ao produto utilizado na guerra conhecido como  “Agente Laranja”. O “Agente Laranja” nunca foi usado em agricultura e era uma mistura de 50% de 2,4,5-T Éster + 50% de 2,4-D Éster, utilizado desta forma  na Guerra do Vietnã para desfolhar as florestas locais. Ficou assim conhecido porque a mistura era armazenada em tambores que possuíam uma “faixa laranja” em sua parte externa.

O problema que existia com o “Agente Laranja” naquela época se relacionava à uma impureza presente no processo de produção do  2,4,5-T chamada dioxina (TCDD). O 2,4,5-T não é mais comercializado nos dias de hoje. 

Acreditou-se inicialmente que as dioxinas eram completamente antropogênicas ou artificiais, um subproduto de certos processos de fabricação. As dioxinas são compostos orgânicos aromáticos que aparecem também em alguns processos de combustão que ocorrem na natureza, entre eles vulcões, incêndios florestais e muitos outros processos naturais. São conhecidos cerca de 75 isômeros na família das dioxinas, sendo que a mais tóxica é a 2,3,7,8-TCDD (2,3,7,8 tetracloro-dibenzo-para-dioxina).



Bibliografia Consultada

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