terça-feira, 30 de agosto de 2011

De Gutemberg à Alcântara


A democratização dos meios de comunicação, tanto na esfera global como nacional, avançou um bocado nos dois últimos séculos, mas está longe do ideal. Da impressora adaptada por Gutemberg, na Inglaterra, nos idos de 1450, baseado na experiência chinesa de 500 anos antes, aos satélites que hoje giram no espaço, a rota é de dominação.

Em termos planetários, para nós, Portugal proibiu as impressoras em suas colônias por séculos a fio. O primeiro jornal impresso oficialmente em solo tupiniquim foi a Gazeta do Rio de Janeiro, em 1808, porta-voz do rei D. João VI, que veio se refugiar aqui das suas encrencas européias.

No mesmo ano, o maçom brasileiro Hypólito da Costa passou a imprimir o Correio Braziliense, em Londres, então capital do mundo ocidental. No Brasil, era um jornal ilegal, pois só ao estado era permitido possuir máquinas de impressão e imprimir o que quer que fosse.

O jornal pendia mais para o literário do que para o informativo, era editado uma vez por mês e vinha para o Brasil de contrabando nos navios. Hypólito não tinha posição política anti-colonialista, por exemplo. Seu jornal nem defendia a independência, debate que então tomava os meios intelectuais e políticos brasileiros, no boca-boca.

A rigor, porém, o primeiro jornal da terra de Gutemberg – o The Times -- surgiu só em 1785. Ou seja, apenas 23 anos antes dos dois jornais brasileiros, tanto o colonial de D. João, quando o privado, no exílio espontâneo de Hypólito. Mas, em ambos os casos, o caminho era o mesmo.

Quero dizer que a mídia moderna, desde os primeiros jornais, sempre esteve nas mãos dos poderosos, das classes dominantes, com sua visão de mundo. Falo da chamada grande mídia, porque sempre houve quem, no meio do caminho, tenha tentado formas alternativas de se comunicar com a sociedade com visões diferenciadas, mesmo que de modo limitado.

A fotografia surgiu nos 1870 e poucas décadas depois – 1906 é o ano de referência – ganhou movimento e virou cinema também. Eram, uma vez mais, esperanças de democratizar a informação. Mas, de novo também, ficaram nas mãos de quem tinha grana para pagar filmes, processos caros de produção e a distribuição.

O cinema, em verdade, se transformou em poderosa arma do imperialismo estadunidense, no período entre as duas grandes guerras e depois. Seja nos filmes normais, dos faroestes aos dramas existenciais, seja na produção para o público infantil, comandada por Walt Disney.

O Pato Donald e sua turma, inclusive o “brasileiro” Zé Carioca, fizeram a cabeça de gerações, com refinado contrabando da ideologia dominante, marcante também, com muita força, nas revistas em quadrinhos.

Nesse mesmo tempo surgiu o rádio, nova esperança de democratização dos meios de comunicação, mas, de novo, era pura ilusão. Os potentes transmissores em ondas curtas das rádios BBC, britânica, e da Voz da América, dos EUA, ganharam o mundo falando em dezenas de línguas.

No caso do rádio, a iniciativa privada entrou com força desde o princípio, mas seguindo a mesma linha de programação. E, de todo jeito, as emissoras mais potentes ficaram nas mãos dos estados, como a Voz e a BBC.

No pós-guerra, em vez de maneirar, houve esforço redobrado para confrontar as ondas de emissoras como a R’adio de Moscou, na antiga União Soviética, que veiculavam mensagens diferentes.

Nesse meio tempo, a televisão se tornou outro poderoso instrumento de dominação. Com custos de produção ainda mais caros e com regras de operação bastante rígidas, como no rádio, o aparelho estatal acabou tomando conta do pedaço.

As emissoras do mundo inteiro passaram a ser veículos das mensagens dos países centrais. Os programas de entretenimento eram os famosos “enlatados” vindos das matrizes e os noticiários seguiam as pautas das ditas “agências internacionais”, que sempre ditaram o jeito de se tratar cada tema.

Já na década de 1960, surgiam os primeiros indícios de um novo veículo de largo alcance, a internet. Nos EUA, centros militares e instituições como o MIT (Massachussets Institute of Tecnology) buscavam forma de integrar computadores distantes fisicamente, para uso militar e de grandes empresas dos mais diversos setores.

Três décadas depois estava em funcionamento a fantástica rede global e parecia, então, que agora a democratização havia chegado. De novo, porém, o sistema parece aberto, mas é perfeitamente controlável. Conversar abobrinha pode, mas no jogo pesado o controle é feito. Num conflito, a rede pode muito bem ser tirada do ar.

Começa pelo controle do tráfego de sinais, que é feito por satélites. Quem tiver satélite de telecomunicações terá a chance de certo controle. Caso contrário, terá suas comunicações absolutamente devassáveis, como é o caso do Brasil.

E aí, voltamos ao tema do Programa Espacial Brasileiro, que tem como referência a base de lançamento de foguetes de Alcântara, no Maranhão. A possibilidade de construirmos satélite e de lançá-los ao espaço existe, mas...

A pressão para que isso não ocorra é grande, mas decisões políticas podem garantir o avanço do processo . E a hora é agora. De outro jeito, seguiremos como no tempo das impressoras controladas.

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